segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Bem-Aventurados os obreiros da Paz

01 de janeiro de 2013: XLVI Dia Mundial da Paz

CIDADE DO VATICANO, Segunda, 31 de Dezembro de 2012.

Em sua mensagem para o 46° Dia Mundial da Paz, amanhã 01 de janeiro, Bento XVI escolheu o tema “Bem-Aventurados os obreiros da Paz”.

O Papa recorda que passados 50 anos do Concilio Vaticano II, “anima constatar como os cristãos, Povo de Deus em comunhão com Ele e caminhando entre os homens, se comprometem na história compartilhando alegrias e esperanças, tristezas e angústias, anunciando a salvação de Cristo e promovendo a paz para todos”.
“O nosso tempo - afirma - caracterizado pela globalização, com seus aspectos positivos e negativos, e também por sangrentos conflitos ainda em curso e por ameaças de guerra, requer um renovado e concorde empenho na busca do bem comum, do desenvolvimento de todo o homem e do homem todo”.
“Causam apreensão - recorda Bento XVI - os focos de tensão e conflito causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, pelo predomínio duma mentalidade egoísta e individualista que se exprime inclusivamente por um capitalismo financeiro desregrado. Além de variadas formas de terrorismo e criminalidade internacional, põem em perigo a paz aqueles fundamentalismos e fanatismos que distorcem a verdadeira natureza da religião, chamada a favorecer a comunhão e a reconciliação entre os homens”.
No entanto as inúmeras obras de paz, de que é rico o mundo – reconhece o Papa – “testemunham a vocação natural da humanidade à paz. Em cada pessoa, o desejo de paz é uma aspiração essencial e coincide, de certo modo, com o anelo por uma vida humana plena, feliz e bem sucedida. Por outras palavras, o desejo de paz corresponde a um princípio moral fundamental, ou seja, ao dever-direito de um desenvolvimento integral, social, comunitário, e isto faz parte dos desígnios que Deus tem para o homem. Na verdade, o homem é feito para a paz, que é dom de Deus”.
Tudo isso sugeriu inspiração, para esta Mensagem, às palavras de Jesus Cristo: «Bem-aventurados os obreiros da paz, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9).
O Papa comenta que bem-aventurança de Jesus diz que a paz é, simultaneamente, dom messiânico e obra humana.
“A paz – afirma - envolve o ser humano na sua integridade e supõe o empenhamento da pessoa inteira: é paz com Deus, vivendo conforme à sua vontade; é paz interior consigo mesmo, e paz exterior com o próximo e com toda a criação. Como escreveu o Beato João XXIII na Encíclica Pacem in terris– cujo cinquentenário terá lugar dentro de poucos meses –, a paz implica principalmente a construção duma convivência humana baseada na verdade, na liberdade, no amor e na justiça”.
“A realização da paz depende sobretudo do reconhecimento de que somos, em Deus, uma úni­ca família humana” - acrescentou - .
“A paz não é um sonho, nem uma utopia; a paz é possível – destaca o Pontífice - Os nossos olhos devem ver em profundidade, sob a superfície das aparências e dos fenómenos, para vislumbrar uma realidade positiva que existe nos corações, pois cada homem é criado à imagem de Deus e chamado a crescer contribuindo para a edificação dum mundo novo”.

Fonte: Zenit.org

domingo, 30 de dezembro de 2012

Feliz ano da juventude

Queridos jovens: o próximo ano é de vocês!

Um grande ano nos espera, um ano no qual a nossa cidade vai ser invadida por uma onda de jovens vindos de todas as partes do Brasil e do mundo e vai receber a visita do Papa Bento XVI. Iremos iniciar o primeiro dia do primeiro mês do Ano da Juventude.
Um grande ano, de muito trabalho e de muitos encontros se delineia para a nossa amada cidade, para os nossos jovens, para as nossas famílias. O próximo ano será o ano da Jornada Mundial da Juventude, evento que sempre deixa um rastro positivo de renovação, um ano marcado não só pela curiosidade de ver uma multidão de jovens animar a Cidade Maravilhosa, mas de observar que novidade que ela trará para a vida de cada um de nós. Entre tantos legados que esperamos dos grandes eventos, este terá um incomparável: deixará a presença de um Deus Amor no coração dos jovens arautos da manhã e anunciadores de um mundo novo.
No próximo dia 5, no Arpoador, no Rio de Janeiro, iremos comemorar a espera dos últimos 200 dias para a JMJ. A espera é uma palavra difícil, sobretudo para os jovens, mas é uma palavra prenhe de vida. A espera é a nota do tempo de Advento, que nós acabamos de viver. Um tempo que se concluiu com a figura de Maria, nossa mãe e mãe de Deus, que viveu como nenhuma outra pessoa a espera do nascimento do Salvador. É a figura de Maria, Mãe de Deus, que encerra a oitava do Natal e abre o novo ano.
Esperamos todos para que entre o 23º ao 28º dia do sétimo mês do ano da juventude, a nossa cidade seja transformada no “Santuário Mundial da Juventude”! Preparamos e esperamos com carinho esse belo momento.
A espera de Nossa Senhora era uma espera bendita, como aquela que as mães geralmente vivem, dominadas pela presença do filho que carregam em si, mas igualmente pelo desejo de vê-Lo, conhecer suas feições, acariciar seu corpo diminuto, de contemplar a novidade da criança que deve nascer. Presença e espera convivem entre si e se completam. Presença e espera continuam a preencher os dias de uma mãe que vê seu filho crescer, de novidade em novidade.
O primeiro dia do Ano é dedicado à Mãe de Deus! É muito importante que seja assim. É como que uma invocação para que aquela que soube esperar nos ensine a esperar também. A esperar e a reconhecer que existe uma Presença que acompanha a nossa vida. A novidade do Ano Novo não pode se exaurir no primeiro dia. Um ano realmente novo é aquele que traz novidade a cada dia. É o que anunciamos: a espera já é a grande festa da juventude.
Esta espera esquenta o coração, nos faz vibrar e é a coisa mais bonita da festa de Réveillon, que enche aquele cenário excepcional que é a Praia de Copacabana. Iremos, como todos os anos, celebrar e esperar do alto do Corcovado, aos pés do Redentor. Porém, neste ano, o povo que espera o Ano que deve chegar, espera, na verdade, algo mais.
A multidão é cheia da espera por uma novidade que não se sabe qual seja, mas que deve vir. A espera tem a dimensão do coração do homem. Nosso coração espera, traz uma espera que nem o barulho ensurdecedor do tempo consegue eliminar. Todo o mundo parece conspirar para que o homem não espere, viva sem viver, se habitue ao feio e ao pequeno, mas, diante das águas do mar de Copacabana e do anúncio da novidade, a espera reacende. Dali, a espera se estende por toda a cidade, todas as casas e salões e clubes que receberão os jovens peregrinos. E no atual vazio de uma região em Guaratiba contemplaremos os milhões de jovens que anunciarão ao mundo a aurora de um tempo novo ao contemplar os montes que se erguem no entorno e que, levados pela nova Avenida com seus ônibus de transporte rápido, percorrerão ruas e vielas, túneis e viadutos para levarem ao mundo a esperança e a paz em Cristo.
Para o próximo ano é importante que os jovens da cidade do Rio de Janeiro sejam portadores da Paz. O Papa Bento XVI, em sua XLVI Mensagem para o Dia Mundial da Paz, recorda que todos somos chamados a ser felizes por sermos os construtores da Paz: “Bem-aventurados os obreiros da Paz”. Em sua mensagem anterior, para o ano que finda, o Papa dirigiu explicitamente sua mensagem à juventude: "nesta escuridão, o coração do homem não cessa de aguardar pela aurora de que fala o salmista. Esta expectativa mostra-se particularmente viva e visível nos jovens, e é por isso que o meu pensamento se volta para eles, considerando o contributo que podem e devem oferecer à sociedade. Queria, pois, revestir a Mensagem para o XLV Dia Mundial da Paz duma perspectiva educativa: «Educar os jovens para a justiça e a paz », convencido de que eles podem, com o seu entusiasmo e idealismo, oferecer uma nova esperança ao mundo. Importante que estes fermentos e o idealismo que encerram encontrem a devida atenção em todas as componentes da sociedade. A Igreja olha para os jovens com esperança, tem confiança neles e encoraja-os a procurarem a verdade, a defenderem o bem comum, a possuírem perspectivas abertas sobre o mundo e olhos capazes de ver « coisas novas » (Is 42, 9; 48, 6). Por isso nossa atenção, unindo os temas dos dois anos, para que os jovens, educados para a justiça e a paz sejam felizes por construir a paz.
Queridos jovens: o próximo ano é de vocês! Assim como a JMJ nos envia a fazer discípulos entre os povos, a Campanha da Fraternidade coloca todos disponíveis: “Eis-me aqui, envia-me”. A Arquidiocese do Rio de Janeiro abre os seus corações para receber a todos como o Nosso Cristo Redentor – de braços abertos. Animem-se para viver com intensidade a JMJ Rio 2013 e vamos testemunhar Deus Menino, nascido de Maria Santíssima, para nos salvar!
A Praia de Copacabana, no sétimo mês do Ano da Juventude, vai ser tomada por uma multidão diferente: jovens de todas as raças e línguas que encontram Alguém que os encheu de espera e de esperança. Dali, partirão em peregrinação para o oeste da cidade, para dizer, em Guaratiba, que eles querem preencher todos os vazios do mundo com a esperança de uma nova vida buscada no íntimo de todos. Assim, juntos iremos passar pela “porta da Fé” a caminho de novos horizontes. A fé é um modo diferente de ver e viver a vida, um modo que é dominado por uma Presença que enche o homem de espera.
A todos os homens de boa vontade, construtores da paz, de perto e de longe, desejamos um feliz e santo ano da juventude.

RIO DE JANEIRO, Domingo, 30 de Dezembro de 2012 
Dom Orani João Tempesta, O. Cist., é arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

Fonte: Zenit.org

sábado, 29 de dezembro de 2012

Fim de ano, um tempo favorável ao amor, à partilha, à revisão de vida ...

Há um clima diferente no ar. As despedidas do ano que termina e as expectativas para o ano vindouro nos contagiam. Seja pobre ou seja rico, adultos ou crianças, todos nós acabamos nos envolvendo nesta atmosfera de luz e festa. Parece que o amor e a paz, que emanam do presépio, atingem de cheio cada coração; até mesmo os mais fechados ou indiferentes à fé tornam-se generosos. Por isso, é uma época própria para confraternizações, revisão de vida, sonhos e esperança. É um tempo favorável ao amor, à partilha do que temos e, mais ainda, do que somos. Momento oportuno também para dar e receber o perdão, condição essencial para quem deseja um coração livre e, consequentemente, uma vida nova no ano que se aproxima.

É ainda época propícia para agradecermos a Deus por todos os benefícios que Ele nos concedeu durante o ano que termina; e apoiados nos sinais do Seu amor, é tempo de encontrarmos forças para acolhermos o ano novo cheios de esperança. 

Agradecer é um gesto nobre e, cada vez mais, necessário em nossos dias. É de Deus que recebemos tudo que temos, desde a vida ao alimento, a saúde, a força e a inteligência para trabalhar; o ar que respiramos, o nascer e o por do sol, a beleza da natureza. Enfim, “em tudo isso há a mão de Deus”. Por isso, louvor e gratidão a Ele, Autor de todo bem!

Mas também é preciso agradecer às pessoas! Para sermos mais felizes, precisamos reconhecer quem realmente somos e isso nos leva a perceber que sozinhos dificilmente chegamos à realização, já que nossa vida está entrelaçada com a vida de milhares de pessoas por este mundo afora.

Portanto, neste clima de celebração, dar um abraço e olhar nos olhos daqueles que dedicam sua vida para nosso bem-estar, talvez tenha muito mais sentido do que enviar um cartão ou até mesmo um valioso presente. 

Por isso fiquemos atentos aos nossos gestos. Na verdade, o ser humano tem sede de amor, de reconhecimento, de afeto, de olhos nos olhos e palavras de incentivo; e isso não se compra com dinheiro, mas se dá, gratuitamente, e se transmite nos pequenos acontecimentos do dia a dia.

Que bom saber que o ano novo se aproxima e nos dá uma nova chance de acertar! Reconhecer nossos limites já é um bom começo de uma vida nova. Afinal, depois dos festejos, a vida nos desafia a seguir viagem e nossas escolhas serão determinantes. Quem deseja recomeçar com leveza e paz, por exemplo, deve ser mais humilde e deixar muito peso para trás de si mesmo, optando pela novidade de cada dia. O homem que não se renova, perde-se, infantiliza-se, sente-se pesado e se cansa com pouca coisa.

É claro que o passado tem seu valor, mas não podemos nos prender a ele. Se o que aconteceu foi bom, ótimo, lembremos com gratidão. Mas se não foi como desejávamos, devemos entregar nossas dores e decepções a Deus e não tentarmos carregá-las como se fossem um fardo em nossas costas.

Lembremo-nos que nossa vida não termina aqui. Nascemos para o alto e, neste mundo, tudo é passageiro. Portanto, entre um ano que termina e outro que começa, caminhar é preciso. Quando faltar forças, caminhe devagar, mas não pare. Por onde for, procure levar o essencial e mantenha seu olhar fixo na meta, lá no alto, mesmo que permaneça com os pés no chão.

Se achar necessário, pare um pouco e pense sobre sua vida. Não tenha medo de reconhecer os erros e acertos; acima de tudo, lute para dar a vitória ao amor. Só é feliz quem ama.

Deixe o ano que termina levar tudo que é dor, solidão, mágoa e ressentimento. Leve para o ano novo somente o que é bom, justo e nobre. Soluções, respostas, abraços, sorrisos, liberdade, justiça, amor, paz e esperança. Tenha certeza: o mundo será melhor com sua colaboração!

Se começar o ano com gratidão, confiança na misericórdia de Deus e cheio do Espírito Santo, com o coração livre de todo apego às coisas vans e dispostos a amar mais do que ser amado, certamente seu ano será sempre novo e sua vida será mais feliz de janeiro a dezembro.

Que assim seja! Uma feliz vida nova para todos nós!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Santos Inocentes

Somente a monstruosidade de uma mente assassina, cruel e desumana, poderia conceber o plano executado pelo sanguinário rei Herodes: eliminar todas os meninos nascidos no mesmo período do nascimento de Jesus para evitar que vivesse o rei dos judeus. Pois foi isso que esse tirano arquitetou e fez.

Impossível calcular o número de crianças arrancadas dos braços maternos e depois trucidadas. Todos esses pequeninos se tornaram os "santos inocentes", cultuados e venerados pelo Povo de Deus. Eles tiveram seu sangue derramado em nome de Cristo, sem nem mesmo poderem "confessar" sua crença.

Quem narrou para a história foi o apóstolo Mateus, em seu Evangelho. Os reis magos procuraram Herodes, perguntando onde poderiam encontrar o recém-nascido rei dos judeus para saudá-lo. O rei consultou, então, os sacerdotes e sábios do reino, obtendo a resposta de que ele teria nascido em Belém de Judá, Palestina.

Herodes, fingindo apoiar os magos em sua missão, pediu-lhes que, depois de encontrarem o "tal rei dos judeus", voltassem e lhe dessem notícias confirmando o fato e o local onde poderia ser encontrado, pois "também queria adorá-lo".

Claro que os reis do Oriente não traíram Jesus. Depois de visitá-lo na manjedoura, um anjo os visitou em sonho avisando que o Menino-Deus corria perigo de vida e que deveriam voltar para suas terras por outro caminho. O encontro com o rei Herodes devia ser evitado.

Eles ouviram e obedeceram. Mas o tirano, ao perceber que havia sido enganado, decretou a morte de todos os meninos com menos de dois anos de idade nascidos na região. O decreto foi executado à risca pelos soldados do seu exército.

A festa aos Santos Inocentes acontece desde o século IV. O culto foi confirmado pelo papa Pio V, agora santo, para marcar o cumprimento de uma das mais antigas profecias, revelada pelo profeta Jeremias: a de que "Raquel choraria a morte de seus filhos" quando o Messias chegasse.

Esses pequeninos inocentes de tenra idade, de alma pura, escreveram a primeira página do álbum de ouro dos mártires cristãos e mereceram a glória eterna, segundo a promessa de Jesus. A Igreja preferiu indicar a festa dos Santos Inocentes para o dia 28 de dezembro por ser uma data próxima à Natividade de Jesus, uma vez que tudo aconteceu após a visita dos reis magos. A escolha foi proposital, pois quis que os Santinhos Inocentes alegrassem, com sua presença, a manjedoura do Menino Jesus.


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

São João Apóstolo e Evangelista

O nome deste evangelista significa: "Deus é misericordioso": uma profecia que foi se cumprindo na vida do mais jovem dos apóstolos. Filho de Zebedeu e de Salomé, irmão de Tiago Maior, ele também era pescador, como Pedro e André; nasceu em Betsaida e ocupou um lugar de primeiro plano entre os apóstolos.

Jesus teve tal predileção por João que este assinalava-se como "o discípulo que Jesus amava". O apóstolo São João foi quem, na Santa Ceia, reclinou a cabeça sobre o peito do Mestre e, foi também a João, que se encontrava ao pé da Cruz ao lado da Virgem Santíssima, que Jesus disse: "Filho, eis aí a tua mãe" e, olhando para Maria disse: "Mulher, eis aí o teu filho". (Jo 19,26s).

Quando Jesus se transfigurou, foi João, juntamente com Pedro e Tiago, que estava lá. João é sempre o homem da elevação espiritual, mas não era fantasioso e delicado, tanto que Jesus chamou a ele e a seu irmão Tiago de Boanerges, que significa "filho do trovão".

João esteve desterrado em Patmos, por ter dado testemunho de Jesus. Deve ter isto acontecido durante a perseguição de Domiciano (81-96 dC). O sucessor deste, o benigno e já quase ancião Nerva (96-98), concedeu anistia geral; em virtude dela pôde João voltar a Éfeso (centro de sua atividade apostólica durante muito tempo, conhecida atualmente como Turquia). Lá o coloca a tradição cristã da primeiríssima hora, cujo valor histórico é irrecusável.

O Apocalipse e as três cartas de João testemunham igualmente que o autor vivia na Ásia e lá gozava de extraordinária autoridade. E não era para menos. Em nenhuma outra parte do mundo, nem sequer em Roma, havia já apóstolos que sobrevivessem. E é de imaginar a veneração que tinham os cristãos dos fins do século I por aquele ancião, que tinha ouvido falar o Senhor Jesus, e O tinha visto com os próprios olhos, e Lhe tinha tocado com as próprias mãos, e O tinha contemplado na sua vida terrena e depois de ressuscitado, e presenciara a sua Ascensão aos céus. Por isso, o valor dos seus ensinamentos e o peso de das suas afirmações não podiam deixar de ser excepcionais e mesmo únicos.

Dele dependem (na sua doutrina, na sua espiritualidade e na suave unção cristocêntrica dos escritos) os Santos Padres daquela primeira geração pós-apostólica que com ele trataram pessoalmente ou se formaram na fé cristã com os que tinham vivido com ele, como S. Pápias de Hierápole, S. Policarpo de Esmirna, Santo Inácio de Antioquia e Santo Ireneu de Lião. E são estas precisamente as fontes donde vêm as melhores informações que a Tradição nos transmitiu acerca desta última etapa da vida do apóstolo.

São João, já como um ancião, depara-se com uma terrível situação para a Igreja, Esposa de Cristo: perseguições individuais por parte de Nero e perseguições para toda a Igreja por parte de seu sucessor, o Imperador Domiciano.

Além destas perseguições, ainda havia o cúmulo de heresias que desentranhava o movimento religioso gnóstico, nascido e propagado fora e dentro da Igreja, procurando corroer a essência mesma do Cristianismo.

Nesta situação, Deus concede ao único sobrevivente dos que conviveram com o Mestre, a missão de ser o pilar básico da sua Igreja naquela hora terrível. E assim o foi. Para aquela hora, e para as gerações futuras também. Com a sua pregação e os seus escritos ficava assegurado o porvir glorioso da Igreja, entrevisto por ele nas suas visões de Patmos e cantado em seguida no Apocalipse.

Completada a sua obra, o santo evangelista morreu quase centenário, sem que nós saibamos a data exata. Foi no fim do primeiro século ou, quando muito, nos princípios do segundo, em tempo de Trajano (98-117 dC).

Três são as obras saídas da sua pena incluídas no cânone do Novo Testamento: o quarto Evangelho, o Apocalipse e as três cartas que têm o seu nome.

São João Evangelista, rogai por nós!

Fonte: CN

Vivamos as alegrias do Natal!

Estamos vivendo as alegrias do Natal. Este é um tempo favorável para tomarmos certas atitudes na nossa vida, as quais, até então, não tínhamos coragem, como perdoar a quem nos feriu e também pedir perdão às pessoas que ferimos.
O nascimento de Jesus nos encoraja a deixarmos para trás a vida velha e a assumirmos a vida nova que Ele veio nos trazer. Não dá mais para vivermos de qualquer jeito, porque “a palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a Sua glória, recebida do Pai como Filho Unigênito, cheio de graça e de verdade” (cf. Jo 1,14).

Feliz Natal!

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

A FELICIDADE DO NATAL!


O primeiro Natal, do qual celebramos a memória no dia 25, foi realmente alegre e feliz. Que alegria e que felicidade! Nasceu Jesus, o Messias prometido desde o Paraíso perdido, esperado pelos Patriarcas desde Adão, razão de ser do povo eleito, o Salvador da humanidade, Deus feito homem. E os anjos anunciaram aos pastores essa felicidade. A aparição da estrela misteriosa fez renascer a felicidade no coração dos Magos que vieram do Oriente.
Segundo a filosofia (Cícero e Boécio), felicidade é o estado constituído pelo acúmulo de todos os bens com a ausência de todos os males.
Então, como poderemos chamar feliz um Natal onde houve desprezo, rejeição – Jesus nasceu numa estrebaria por falta de lugar para Ele nas casas e nas hospedarias -, lágrimas, gritos, morte, luto – Herodes, perseguindo Jesus, mandou matar as crianças de Belém – fuga, desterro, pobreza, sacrifícios?
Realmente, felicidade perfeita, na definição filosófica, só se encontrará no Céu, na Jerusalém celeste, onde Deus “enxugará toda a lágrima dos seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque tudo isto passou” (Ap 21,4).
É a grande lição do Natal: é possível ser feliz no desterro, na dor, no desprezo, no luto, até com lágrimas, aqui na terra. Aqui, a felicidade consiste em ter Jesus, em estar com Jesus, em amar Jesus de todo o coração, com a esperança de tê-lo perfeitamente um dia no Céu. Talvez tenha sido essa a felicidade que Assis Valente, autor de “Anoiteceu”, não conhecia quando a pediu ao Papai Noel. Talvez por isso tenha se matado, pois ele e ela não vieram.
Aqui, o que faz a felicidade é a esperança: "alegres pela esperança, pacientes na tribulação" (Rm 12,12). O cristão é otimista pela esperança. É feliz porque espera. Mesmo quando sofre. Mesmo no meio dos sofrimentos, angústias e dores, pode-se ter a felicidade. Por isso, o primeiro Natal foi cheio de felicidade. A pobre estrebaria de Belém era o Céu. Ali faltava tudo e não faltava nada. Ali estava a felicidade que a todos encheu de alegria: Jesus.
O presépio de Belém é o princípio da pregação de Jesus, o resumo da sua Boa Nova, o Evangelho. Dali, daquele pequeno púlpito, silenciosamente, ele nos ensina o desprezo da vanglória desse mundo, o valor da pobreza e do desprendimento, o nada das riquezas, a necessidade da humildade, o apreço das almas simples, a paciência, a mansidão, a caridade para com o próximo, a harmonia na convivência humana, o perdão das ofensas, a grandeza de coração, a pureza de alma, enfim, todas as virtudes cristãs que fariam o mundo muito melhor, se as praticasse.
É por isso que o Natal cristão é festa de paz e harmonia, de confraternização em família, de troca de presentes entre amigos, de gratidão e de perdão. Pois é a festa daquele que, sendo Deus, tornou-se nosso irmão aqui na terra, ensinando-nos o que é a felicidade.

 Dom Fernando Arêas Rifan
 Bispo da Administração Apostólica Pessoal  São João Maria Vianney

Desejo-vos, às vossas famílias, aos vossos amigos um Santo e Feliz Natal, repleto de bênçãos do Menino Jesus!
 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Na última catequese do ano, Papa reflete sobre a fé de Maria


Na última catequese de 2012, de quarta-feira, 19, o Papa Bento XVI centrou suas reflexões sobre a fé de Maria a partir do mistério da Anunciação. Ele destacou a humildade e a obediência de fé da Virgem Maria.

 – Apresentamos a seguir a catequese de Bento XVI realizada  durante a Audiência Geral na sala Paulo VI.


Virgem Maria: Ícone da fé obediente
Queridos irmãos e irmãs,
No caminho do Advento a Virgem Maria ocupa um lugar particular como aquela que de maneira única esperou a realização das promessas de Deus, acolhendo na fé e na carne Jesus, o Filho de Deus, em plena obediência à vontade divina. Hoje gostaria de refletir brevemente com vocês a fé de Maria a partir do grande mistério da Anunciação.
«Chaîre kecharitomene, ho Kyrios meta sou», “Alegra-te, cheia de graça: o Senhor é convosco” (Lc 1,28). São estas as palavras – trazidas pelo evangelista Lucas – com as quais o arcanjo Gabriel se dirige a Maria. À primeira vista o termo Chaîre, “alegra-te”, parece uma saudação normal, usual no âmbito grego, mas esta palavra, se lida a partir da tradição bíblica, adquire um significado muito mais profundo. Este mesmo termo está presente quatro vezes na versão grega do Antigo Testamento e sempre como um anúncio alegre da vinda do Messias (cf Sof 3,14; Gl 2,21; Zc 9,9; Lam 4,21). A saudação do Anjo à Maria é então um convite à alegria, a uma alegria profunda, anuncia o fim da tristeza que há no mundo diante das limitações da vida, do sofrimento, da morte, da maldade, da escuridão do mal que parece obscurecer a luz da bondade divina. É uma saudação que marca o inicio do Evangelho, da Boa Nova.
Mas porque Maria é convidada a alegrar-se desta maneira? A resposta se encontra na segunda parte da saudação: “o Senhor é convosco”. Aqui também para bem compreender o sentido da expressão devemos dirigir-nos ao Antigo Testamento. No livro de Sofonias encontramos esta expressão “Alegra-te filha de Sião,... Rei de Israel é o Senhor em meio a ti... O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, um herói que salva” (3, 14-17). Nestas palavras existe uma dupla promessa feita a Israel, à filha de Sião: Deus virá como salvador e fará habitação em meio ao seu povo, no ventre da filha de Sião. No diálogo entre o anjo e Maria se realiza exatamente esta promessa: Maria é identificada com o povo escolhido por Deus, é verdadeiramente a Filha de Sião em pessoa; nela se cumpre a esperada vinda definitiva de Deus, nela faz morada o Deus vivo.
Na saudação do anjo, Maria é chamada “cheia de graça”; em grego o termo “graça”, charis, tem a mesma raiz linguística da palavra “alegria”. Esta expressão também esclarece posteriormente a fonte da alegria de Maria: a alegria proveniente da graça, provém, então, da comunhão com Deus, do ter uma conexão vital com Ele, de ser morada do Espírito Santo, totalmente plasmada pela ação de Deus. Maria é a criatura que de maneira única abriu a porta a seu Criador, colocou-se em suas mãos, sem limites. Ela vive inteiramente da e na relação com o Senhor; está em atitude de escuta, atenta para acolher os sinais de Deus no caminho de seu povo; está inserida em uma história de fé e de esperança nas promessas de Deus, que constitui o cerne de sua existência. E se submete livremente à palavra recebida, à vontade divina na obediência da fé.
O Evangelista Lucas narra a história de Maria através de um paralelismo com a história de Abraão. Como o Patriarca é o pai dos crentes, que respondeu ao chamado de Deus para sair da terra em que vivia, de suas seguranças, para iniciar um caminho em direção a uma terra desconhecida e possuindo apenas a promessa divina, assim Maria se entrega com plena confiança na palavra que anuncia o mensageiro de Deus e se torna modelo e mãe de todos os crentes.
Gostaria de destacar outro aspecto importante: a abertura da alma a Deus e à sua ação na fé inclui também o elemento da escuridão. A relação do ser humano com Deus não cancela a distância entre o Criador e a criatura, não elimina quanto afirma o apóstolo Paulo diante da profundidade da sabedoria de Deus: “Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos”  (Rm 11,33). Mas exatamente aquele que – como Maria – está aberto de maneira total a Deus, consegue aceitar o querer divino, mesmo sendo misterioso, mesmo que muitas vezes não corresponda ao próprio querer e é uma espada que transpassa a alma, como profeticamente dirá o velho Simeão a Maria, no momento em que Jesus é apresentado no Templo (cf Lc2, 35). O caminho de fé de Abraão compreende o momento de alegria pela doação do filho Isaac, mas também o momento de escuridão, quando deve subir o monte Moria para cumprir um gesto paradoxal: Deus lhe pede para sacrificar o filho que lhe havia apenas dado, no monte o anjo lhe ordena: “Não estenda a mão contra o menino e não lhe faça nada! Agora sei que tu temes a Deus e não me recusaste o teu filho, o teu unigênito”  (Gen 22,12); a confiança plena de Abraão no Deus fiel às promessas não é menor mesmo quando a sua palavra é misteriosa e é difícil, quase impossível, de ser acolhida. Assim é para Maria, a sua fé vive a alegria da Anunciação, mas passa também através da escuridão da crucificação do Filho, para chegar à luz da Ressurreição.
Não é diferente também no caminho de fé de cada um de nós: encontramos momentos de luz, mas encontramos momentosem que Deusparece ausente, e seu silêncio pesa em nossos corações e a sua vontade não corresponde à nossa, àquilo que queremos. Mas quanto mais nos abrimos a Deus, acolhemos o dom da fé, colocamos totalmente Nele a nossa confiança - como Abraão e como Maria – mais Ele nos torna capazes, com a sua presença, de viver cada situação da vida na paz e na certeza da sua fidelidade e do seu amor. Isto, porém, significa sair de si mesmo e dos próprios projetos, para que a Palavra de Deus seja a lâmpada que guia os nossos pensamentos e as nossas ações.
Gostaria de deter-me agora num aspecto que emerge nas reflexões sobre a infância de Jesus narrado por Lucas. Maria e José levam o filho a Jerusalém, ao Templo, para apresentá-lo e consagrá-lo ao Senhor como prescreve a lei de Moisés: “Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor (Lc 2, 22-24). Este gesto da Santa Família adquire um sentido ainda mais profundo se o lemos à luz da ciência evangélica de Jesus aos doze anos que, depois de três dias de busca, é encontrado no Templo discutindo entre os mestres. Às palavras cheias de preocupação de Maria e José: “Filho, por que nos fez isso? Teu pai e eu angustiados te procurávamos”, corresponde a misteriosa resposta de Jesus: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?  (Lc 2, 48-49). Isso é, na propriedade do Pai, na casa do Pai, assim como o é um filho. Maria deve renovar a fé profunda com a qual disse “sim” na Anunciação; deve aceitar que na precedência havia o Pai verdadeiro e próprio de Jesus; deve saber deixar livre aquele Filho que gerou para que siga a sua missão. E o “sim” de Maria à vontade de Deus, na obediência da fé, repete-se ao longo de sua vida, até o momento mais difícil, aquele da Cruz.
Diante de tudo isso, podemos nos perguntar: como pôde Maria viver este caminho ao lado do Filho com uma fé assim firme, mesmo na escuridão, sem perder a plena confiança na ação de Deus? Há uma atitude de fundo que Maria assume diante daquilo que acontece na sua vida. Na Anunciação Ela permanece perturbada escutando as palavras do anjo – é o temor que o homem prova quando é tocado pela proximidade de Deus -, mas não é a atitude de quem tem medo diante daquilo que Deus pode pedir. Maria reflete, se interroga sobre o significado de tal saudação (cf Lc 1,29). O termo grego usado no Evangelho para definir este “refletir”, “dielogizeto” faz referência à raiz da palavra “diálogo”. Isto significa que Maria entra num diálogo íntimo com a Palavra de Deus que lhe foi anunciada, não a considera superficialmente, mas se detém, a deixa penetrar na sua mente e no seu coração para compreender o que o Senhor quer dela, o sentido do anúncio.
Um outro aceno da atitude interior de Maria diante da ação de Deus encontramos, sempre no Evangelho de São Lucas, no momento do nascimento de Jesus, depois da adoração dos pastores. Afirma-se que Maria “conserva todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19); em grego o termo é symballon, podemos dizer que Ela “tinha junto”, “colocava junto” em seu coração todos os eventos que aconteciam; colocava cada elemento, cada palavra, cada fato dentro de tudo e o confrontava, o conservava, reconhecendo que tudo provém da vontade de Deus. Maria não se detém numa primeira compreensão superficial daquilo que acontece na sua vida, mas sabe olhar com profundidade, deixa-se interpelar pelos eventos, os elabora, os discerne, e adquire a compreensão que somente a fé pode garantir. É a humildade profunda da fé obediente de Maria, que acolhe em si também aquilo que não compreende do agir de Deus, deixando que seja Deus a abrir a mente e o coração. “Bem aventurada aquela que acreditou no cumprimento da palavra do Senhor” (Lc 1, 45), exclama a parenta Isabel. É exatamente pela sua fé que todas as gerações a chamarão bem aventurada.
Queridos amigos, a solenidade do Natal do Senhor que em breve celebraremos, nos convida a viver esta mesma humildade e obediência de fé. A glória de Deus não se manifesta no triunfo e no poder de um rei, não resplandece em uma cidade famosa, em um suntuoso palácio, mas faz morada no ventre de uma virgem, revela-se na pobreza de uma criança. A onipotência de Deus, também na nossa vida, age com a força, muitas vezes silenciosa, da verdade e do amor. A fé nos diz, então, que o indefeso poder daquele Menino ao fim vence o rumor dos poderes do mundo.
Ao final o Papa dirigiu a seguinte saudação em português:
Amados peregrinos de língua portuguesa, a minha saudação amiga para todos, com votos de um santo Natal de Jesus no coração e na família de cada um, pedindo a mesma humildade e obediência da fé de Maria e José, que vos faça ver, na força indefesa daquele Menino, a vitória final sobre todos os arrogantes e rumorosos poderes do mundo. Bom Natal!

Fonte:  ZENIT.org

domingo, 16 de dezembro de 2012

3º Domingo do Advento: "Alegrai-vos sempre no Senhor; repito, alegrai-vos!"

“Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!"

E chega, então, o Domingo da Alegria, o Domingo “Gaudete”em que a Igreja, em vez do roxo, se reveste da cor rósea, sendo um gozo antecipado da alegria do Natal. E, neste dia a Igreja pára a penitência, a Igreja coloca flores cor de rosa em seus altares para lembrar a nós: “Ele está próximo!” “Alegrai-vos, porque a vossa salvação se aproxima”.

A alegria é um dos frutos do Espírito Santo, e que não podemos confundir com a euforia, porque a euforia é avassaladora, vem e passa, e, muitas vezes ao vir, sempre deixa o rastro de destruição. O carnaval, como festa diabólica que é, não contém alegria, porque a alegria vem de Deus, o Espírito passa por nós, nos edifica e a Deus volta; a euforia, não, a do carnaval, das festas pagãs, etc. Esta vem de forma avassaladora, e deixa o quê? Destruição! Desnorteamento! E afastamento de Deus. Isso não é alegria. A alegria vem de Deus, e deve voltar a Deus. E edifica. E santifica. E renova. Isso é a ação de Deus.
 
A alegria não é a ausência da dor. A Santíssima Virgem, aos pés da cruz, tendo o seu coração rasgado pela dor, estava profundamente alegre, porque a sua alegria era in Domino, como cantam o Intróito e a Epístola: “Alegrai-vos no Senhor”. A nossa alegria só tem sentido no Senhor; se é uma alegria que não é no Senhor, então ela é infantil, ela é imatura; ela é sem sentido, irracional... E desta “alegria”, o mundo está cheio; desta aparente alegria, a sociedade está cheia, se enganando, se “alegrando” para cair na perdição.

A grande palavra de ordem para nós é “Alegrai-vos, o Senhor se aproxima”. João Batista já aparece no Evangelho para nos dizer: “Preparai os caminhos do Senhor!” “Eu não sou o Cristo, não sou o Messias; eu sou apenas a voz que clama no deserto: preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas”. Que nós correspondamos urgentemente, porque já não há mais tempo. Já não há mais tempo para brincadeira, já não há mais tempo para adiarmos a nossa conversão, porque Aquele que hoje age para nós com estrondosa misericórdia, amanhã será nosso Juiz, e no Seu Tribunal, esta grande misericórdia, estas grandes graças enviadas para nossa salvação serão revertidas no rigor de um julgamento, do qual ninguém escapará. Lembremos de outra parte do Evangelho que nos diz: “Servo mal e preguiçoso! Não sabias que eu colho até onde eu não semeei?” Ora, se há um patrão severo, que irá pedir contas até daquilo que não deu, quanto mais daquilo que ele deu, que ele dá a cada instante...

Neste Domingo da Alegria, alegremo-nos. São Domingos Sávio dizia a Dom Bosco: “Ensina-me a ser santo depressa, eu quero ser santo depressa”, e Dom Bosco deu a São Domingos Sávio três conselhos para se chegar à santidade; e, entre eles, um grande conselho ele deu e que serve para nós: “Seja sempre alegre”. E esta alegria é no Senhor, porque a alegria que não é no Senhor é bobeira, é típica de alguém que ficou na eterna infantilidade, no esquecimento espiritual, é romantismo barato. A alegria verdadeira é aquela em que o fiel, mesmo na dor, mesmo com o coração despedaçado, mantém-se livremente alegre no Senhor.

Ouçamos São Paulo, ouçamos a Igreja que nos exorta a estarmos sempre alegres, nesta alegria que jamais passará, nesta alegria que vem de Deus, que penetra o nosso ser e nossa alma, e, penetrando o nosso ser e a nossa alma, eleva-nos para o Céu, eleva-nos para Deus. Quando na Missa o sacerdote diz: “Sursum corda” – corações ao alto – estes corações ao alto são os corações na alegria do Espírito, na alegria de Deus. Que só esta alegria, que, para nós, é o antegozo do Céu – porque no Céu gozaremos de uma eterna e profunda alegria – possa permanecer, mesmo no tempo do Advento – e ela deve permanecer mesmo no tempo do Advento em nossos corações.

Gaudete in Domino semper, como diz São Paulo e repete com muita firmeza: “Gaudete in Domino semper: iterum dico, gaudete” – “Alegrai-vos, alegrai-vos, alegrai-vos, eu vos digo, eu vos repito, alegrai-vos”.

Lembrete: Hoje damos início a novena do Santo Natal!
 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

São João da Cruz

O santo deste dia é conhecido como "doutor místico": São João da Cruz. Nasceu em Fontiveros, na Espanha, em 1542. Seus pais, Gonçalo e Catarina, eram pobres tecelões. Gonçalo morreu cedo e a viúva teve de passar por dificuldades enormes para sustentar os três filhos: Francisco, João e Luís, sendo que este último morreu quando ainda era criança. Como João de Yepes (era este o seu nome de batismo) mostrou-se inclinado para os estudos, a mãe o enviou para o Colégio da Doutrina. Em 1551, os padres jesuítas fundaram um colégio em Medina (centro comercial de Castela). Nele, esse grande santo estudou Ciências Humanas.
Com 21 anos, sentiu o chamado à vida religiosa e entrou na Ordem Carmelita, na qual pediu o hábito. Nos tempos livres, gostava de visitar os doentes nos hospitais, servindo-os como enfermeiro. Ocasião em que passou a ser chamado de João de Santa Maria. Devido ao talento e à virtude, rapidamente foi destinado para o colégio de Santo André, pertencente à Ordem, em Salamanca, ao lado da famosa Universidade. Ali estudou Artes e Teologia. Foi nesse colégio nomeado de "prefeito dos estudantes", o que indica o seu bom aproveitamento e a estima que os demais tinham por ele. Em 1567 foi ordenado sacerdote.

Desejando uma disciplina mais rígida, São João da Cruz quase saiu da Ordem para ir ingressar na Ordem dos Cartuxos, mas, felizmente, encontrou-se com a reformadora dos Carmelos, Santa Teresa D'Ávila, a qual havia recebido autorização para a reforma dos conventos masculinos. João, empenhado na reforma, conheceu o sofrimento, as perseguições e tantas outras resistências. Chegou a ficar nove meses preso num convento em Toledo, até que conseguiu fugir. Dessa forma, o santo espanhol transformou, em Deus e por Deus, todas as cruzes num meio de santificação para si e para os irmãos. Três coisas pediu e acabou recebendo de Deus: primeiro: força para trabalhar e sofrer muito; segundo: não sair deste mundo como superior de uma comunidade; e terceiro: morrer desprezado e escarnecido pelos homens.

Pregador, místico, escritor e poeta, esse grande santo da Igreja faleceu após uma penosíssima enfermidade, em 1591, com 49 anos de idade. Foi canonizado no ano de 1726 e, em 1926, o Papa Pio XI o declarou Doutor da Igreja. Escreveu obras bem conhecidas como: Subida do Monte Carmelo; Noite escura da alma (estas duas fazem parte de um todo, que ficou inacabado); Cântico espiritual e Chama viva de amor. No decurso delas, o itinerário que a alma percorre é claro e certeiro. Negação e purificação das suas desordens sob todos os aspectos.

São João da Cruz é o Doutor Místico por antonomásia, da Igreja, o representante principal da sua mística no mundo, a figura mais ilustre da cultura espanhola e uma das principais da cultura universal. Foi adotado como Patrono da Rádio, pois, quando pregava, a sua voz chegava muito longe.

São João da Cruz, rogai por nós!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Conheça a história da Santa protetora dos olhos

Santa Luzia (ou Santa Lúcia), cujo nome deriva do latim, é muito amada e invocada como a protetora dos olhos, janela da alma, canal de luz.

Conta-se que pertencia a uma família italiana e rica, que lhe deu ótima formação cristã, ao ponto de Luzia ter feito um voto de viver a virgindade perpétua. Com a morte do pai, Luzia soube que sua mãe queria vê-la casada com um jovem de distinta família, porém pagão. Ao pedir um tempo para o discernimento foi para uma romaria ao túmulo da mártir Santa Ágeda, de onde voltou com a certeza da vontade de Deus quanto à virgindade e quanto aos sofrimento por que passaria, como Santa Ágeda.

Vendeu tudo, deu aos pobres e logo foi acusada pelo jovem que a queria como esposa. Santa Luzia, não querendo oferecer sacrifício ao deuses e nem quebrar o seu santo voto, teve que enfrentar as autoridades perseguidoras e até a decapitação em 303, para assim testemunhar com a vida, ou morte o que disse: "Adoro a um só Deus verdadeiro, e a ele prometi amor e fidelidade".

Somente em 1894 o martírio da jovem Luzia, também chamada Lúcia, foi devidamente confirmado, quando se descobriu uma inscrição escrita em grego antigo sobre o seu sepulcro, em Siracusa, Ilha da Sicília. A inscrição trazia o nome da mártir e confirmava a tradição oral cristã sobre sua morte no início do século IV.

Mas a devoção à santa, cujo próprio nome está ligado à visão ("Luzia" deriva de "luz"), já era exaltada desde o século V. Além disso, o papa Gregório Magno, passado mais um século, a incluiu com todo respeito para ser citada no cânone da missa. Os milagres atribuídos à sua intercessão a transformaram numa das santas auxiliadoras da população, que a invocam, principalmente, nas orações para obter cura nas doenças dos olhos ou da cegueira.

Diz a antiga tradição oral que essa proteção, pedida a santa Luzia, se deve ao fato de que ela teria arrancado os próprios olhos, entregando-os ao carrasco, preferindo isso a renegar a fé em Cristo. A arte perpetuou seu ato extremo de fidelidade cristã através da pintura e da literatura. Foi enaltecida pelo magnífico escritor Dante Alighieri, na obra "A Divina Comédia", que atribuiu a santa Luzia a função da graça iluminadora. Assim, essa tradição se espalhou através dos séculos, ganhando o mundo inteiro, permanecendo até hoje.

Luzia pertencia a uma rica família de Siracusa. Sua mãe, Eutíquia, ao ficar viúva, prometeu dar a filha como esposa a um jovem da Corte local. Mas a moça havia feito voto de virgindade eterna e pediu que o matrimônio fosse adiado. Isso aconteceu porque uma terrível doença acometeu sua mãe. Luzia, então, conseguiu convencer Eutíquia a segui-la em peregrinação até o túmulo de santa Águeda ou Ágata. A mulher voltou curada da viagem e permitiu que a filha mantivesse sua castidade. Além disso, também consentiu que dividisse seu dote milionário com os pobres, como era seu desejo.

Entretanto quem não se conformou foi o ex-noivo. Cancelado o casamento, foi denunciar Luzia como cristã ao governador romano. Era o período da perseguição religiosa imposta pelo cruel imperador Diocleciano; assim, a jovem foi levada a julgamento. Como dava extrema importância à virgindade, o governante mandou que a carregassem à força a um prostíbulo, para servir à prostituição. Conta a tradição que, embora Luzia não movesse um dedo, nem dez homens juntos conseguiram levantá-la do chão. Foi, então, condenada a morrer ali mesmo. Os carrascos jogaram sobre seu corpo resina e azeite ferventes, mas ela continuava viva. Somente um golpe de espada em sua garganta conseguiu tirar-lhe a vida. Era o ano 304.

Para proteger as relíquias de santa Luzia dos invasores árabes muçulmanos, em 1039, um general bizantino as enviou para Constantinopla, atual território da Turquia. Elas voltaram ao Ocidente por obra de um rico veneziano, seu devoto, que pagou aos soldados da cruzada de 1204 para trazerem sua urna funerária. Santa Luzia é celebrada no dia 13 de dezembro e seu corpo está guardado na Catedral de Veneza, embora algumas pequenas relíquias tenham seguido para a igreja de Siracusa, que a venera no mês de maio também.


Santa Luzia, rogai por nós!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Toda promessa se cumpre em Jesus, nele culmina a história de Deus com a humanidade

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 12 dezembro de 2012  - Publicamos a seguir a catequese realizada esta manhã pelo Papa Bento XVI durante a habitual audiência geral realizada na sala Paulo VI.

Queridos irmãos e irmãs,
na última catequese falei da Revelação de Deus, como comunicação que Ele faz de Si mesmo e do seu plano de benevolência e de amor. Esta Revelação de Deus entra no tempo e na história dos homens: história que se torna “o lugar em que podemos constatar o agir de Deus em favor da humanidade. Ele chega a nós por meio do que nos é mais familiar, e fácil de verificar, que constitui o nosso contexto cotidiano, sem o qual não conseguiríamos compreender-nos” (João Paulo II, Enc. Fides et ratio, 12, Tradução Nossa).
O evangelista São Marcos - como ouvimos – relata, de forma clara e sintética, os momentos iniciais da pregação de Jesus: "O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo" (Marcos 1, 15). O que ilumina e dá sentido pleno para a história do mundo e do homem começa a brilhar na gruta de Belém; é o Mistério que contemplaremos daqui a pouco no Natal: a salvação que se realiza em Jesus Cristo. Em Jesus de Nazaré Deus mostra o seu rosto e pede a decisão do homem de reconhecê-lo e de seguí-lo. O revelar-se de Deus na história para entrar em relação de diálogo de amor com o homem, dá um novo sentido para todo o caminho humano. A história não é apenas uma sucessão de séculos, de anos, de dias, mas é o tempo de uma presença que lhe dá sentido e abre-a para uma sólida esperança.
Onde podemos ler as fases desta Revelação de Deus? A Sagrada Escritura é o melhor lugar para descobrir os acontecimentos deste caminho, e gostaria de – mais uma vez – convidar a todos, neste Ano da fé, para pegar em mãos com mais frequência a Bíblia e lê-la e meditá-la e a prestar maior atenção nas Leituras da Missa dominical; tudo isso constitui um alimento precioso para a nossa fé.
Lendo o Antigo Testamento podemos ver como as intervenções de Deus na história do povo que escolheu para si e com o qual faz aliança não são fatos que passam e caem no esquecimento, mas se tornam “memória”, tornam-se a “história da salvação”, mantida viva na consciência do povo de Israel por meio da celebração dos acontecimentos salvíficos. Assim, no Livro do Êxodo o Senhor indica a Moisés de celebrar o grande momento da libertação da escravidão do Egito, a Páscoa Hebráica, com estas palavras: “Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o com uma festa em honra do Senhor: fareis isso de geração em geração, pois é uma instituição perpétua” (12, 14). Para todo o povo de Israel lembrar isso que Deus tem feito, torna-se uma espécie de imperativo constante para que a passagem do tempo seja marcada pela memória viva dos eventos passados, que formam assim, dia a dia, de novo, a história e permanecem presentes. No Livro do Deuteronômio, Moisés se dirige ao povo dizendo: “Guarda-te, pois, a ti mesmo: cuida de nunca esquecer o que viste com os teus olhos, e toma cuidado para que isso não saia jamais de teu coração, enquanto viveres; e ensina-o aos teus filhos, e aos filhos de teus filhos” (4, 9). E assim também nos diz: "Tenha cuidado para não esquecer as coisas que Deus fez conosco". A fé é alimentada pela descoberta e pela memória do Deus sempre fiel, que guia a história e que é o fundamento seguro e estável sobre o qual construir a própria vida. Também o canto do Magnificat, que a Virgem Maria eleva a Deus, é um exemplo altíssimo desta história de salvação, desta memória que faz e tem presente o atuar de Deus. Maria exalta o agir misericordioso de Deus no caminho concreto do seu povo, a fidelidade às promessas de aliança feitas a Abraão e à sua descendência; e tudo isso é memória viva da presença divina que nunca falha (cf. Lc 1, 46-55).
Para Israel, o Êxodo é o acontecimento histórico central em que Deus revela a sua ação poderosa. Deus liberta os israelitas da escravidão do Egito para que possam voltar à Terra Prometida e adorá-Lo como o único e verdadeiro Senhor. Israel não se coloca à caminho por ser um povo como os outros -  por ter também ele uma independência nacional -, mas por servir a Deus no culto e na vida, por criar para Deus um lugar onde o homem está em obediência a Ele, onde Deus está presente e adorado no mundo; e, naturalmente, não somente para eles, mas para testemunhá-lo no meio dos outros povos. A celebração deste evento é um fazê-lo presente e atual, para que a obra de Deus não seja esquecida. Ele tem fé no seu plano de libertação e continua a perseguí-lo, para que o homem possa reconhecer e servir o seu Senhor e responder com fé e amor à sua ação.
Deus, então, se revela não só no ato primordial da criação, mas entrando na nossa história, na história de um pequeno povo que não era nem o maior, nem o mais forte. E esta Revelação de Deus, que vai adiante na história, culmina em Jesus Cristo: Deus, o Logos, a Palavra criadora que está na origem do mundo, se encarnou em Jesus e mostrou o verdadeiro rosto de Deus. Em Jesus cumpre-se toda promessa, Nele culmina a história de Deus com a humanidade. Quando lemos a narração dos dois discípulos à caminho de Emaús, que chegou a nós por meio de São Lucas, vemos claramente que a pessoa de Cristo ilumina o Antigo Testamento, toda a história da salvação e mostra o grande plano unitário dos dois Testamentos, mostra o caminho da sua unicidade. De fato, Jesus explica aos dois viajantes perdidos e decepcionados ser Ele o cumprimento de todas as promessas: "E, começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras as coisas referentes a Ele" (24, 27). O evangelista mostra a exclamação dos dois discípulos depois de terem reconhecido que aquele companheiro de viagem era o Senhor: “Não ardia o nosso coração enquanto ele conversava conosco ao longo do caminho, quando nos explicava as Escrituras?" (V. 32).
O Catecismo da Igreja Católica resume as etapas da Revelação divina mostrando sinteticamente o seu desenvolvimento (cf. nn 54-64): Deus convidou o homem desde o início para uma íntima comunhão com Ele e também quando o homem, pela própria desobediência, perdeu a sua amizade, Deus não o abandonou ao poder da morte, mas ofereceu muitas vezes a sua aliança aos homens (cf. Missal Romano, Pregh. EUC. IV). O Catecismo traça o caminho de Deus ao homem desde a aliança com Noé, depois do dilúvio, à chamada de Abraão para deixar a sua terra e fazê-lo pai de uma multidão de nações. Deus forma Israel como o seu povo, por meio do evento do Êxodo, a Aliança do Sinai e o dom, por meio de Moisés, da Lei para ser reconhecido e servido como o único Deus vivo e verdadeiro. Com os profetas, Deus guia o seu povo na esperança da salvação. Conhecemos – por meio de Isaias – o “segundo Êxodo”, o retorno do exílio da Babilônia à própria terra, a refundação do povo; porém, ao mesmo tempo, muitos permanecem na dispersão e assim começa a universalidade desta fé. No final, não se espera somente um rei, Davi, um filho de Davi, mas um “Filho do homem”, a salvação de todos os povos. Realizam-se encontros entre culturas, primeiro com Babilônia e a Síria, depois também com a multidão grega. Assim vemos como o caminho de Deus cresce, abre-se sempre mais para o Mistério de Cristo, o Rei do universo. Em Cristo se realiza finalmente a Revelação na sua plenitude: Ele mesmo se faz um conosco.
Fixei-me mais no fazer memória do atuar de Deus na história do homem, para mostrar as etapas deste grande plano de amor testemunhado no Antigo e no Novo Testamento: um único plano de salvação para toda a humanidade, progressivamente revelado e realizado pelo poder de Deus, onde Deus sempre reage às respostas do homem e encontra novos inícios de aliança quando o homem se perde. Isso é fundamental no caminho de fé. Estamos no tempo litúrgico do Advento que nos prepara para o Santo Natal. Como todos sabemos, a palavra “Advento” significa “vinda”, “presença”, e antigamente indicava justamente a chegada do rei ou do imperador numa determinada província. Para nós cristãos a palavra indica uma realidade maravilhosa e envolvente: o mesmo Deus cruzou o seu Céu e se inclinou ao homem; fez aliança com ele entrando na história de um povo; Ele é o rei que desceu nesta pobre província que é a terra e nos fez o dom da sua visita assumindo a nosa carne, se tornando homem como nós. O Advento nos convida a percorrer o caminho desta presença e nos lembra sempre de novo que Deus não saiu do mundo, não está ausente, não nos abandonou, mas vem a nós de diferentes formas, que devemos aprender a discernir. E também nós com a nossa fé, a nossa esperança e a nossa caridade, somos chamados todos os dias para ver e testemunhar esta presença no mundo muitas vezes superficial e distraído, e fazer brilhar na nossa vida a luz que iluminou a gruta de Belém. Obrigado.
Após a audiência, o Papa disse aos peregrinos de língua portuguesa estas palavras:
Queridos peregrinos de língua portuguesa, sede bem-vindos! Possa a preparação para o Natal, neste tempo do Advento, vos recordar que Deus vem ao encontro de cada ser humano. Meditai a Palavra de Deus, precioso alimento da vossa fé, para assim resplandecer nas vossas vidas a luz de Cristo que iluminou a gruta de Belém. Que Ele vos abençoe!
E aos peregrinos de língua italiana o Papa lembrou a memória que celebramos hoje da virgem de Guadalupe: 
Hoje celebramos a memória de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira das Américas e também da nova evangelização. Queridos jovens, na escola de Maria aprendemos a amar e esperar; queridos doentes, a Santíssima Virgem seja vossa companhia e conforto no sofrimento; e vós, caros recém-casados, confiai à Mãe de Jesus, o vosso caminho conjugal.

Fonte: ZENIT.org

A FÉ E A VIOLÊNCIA

      Hoje é a festa da padroeira de toda a América Latina, Nossa Senhora de Guadalupe, ícone da primeira evangelização do novo mundo. “Ela, da mesma forma como deu à luz o Salvador do mundo, trouxe o Evangelho à nossa América. No acontecimento em Guadalupe, presidiu, junto com o humilde João Diego, o Pentecostes que nos abriu os dons do Espírito... Ela é para nós escola de fé destinada a nos conduzir e a nos fortalecer no caminho que conduz ao encontro com o Criador do céu e da terra... ‘Permaneçam na escola de Maria. Inspirem-se em seus ensinamentos... Quando a Virgem de Guadalupe apareceu ao índio São Juan Diego, disse-lhe estas significativas palavras: “Não estou eu aqui que sou tua mãe? Não estás sob minha proteção? Não sou a fonte de tua alegria? Não estás sob meu manto, no cruzar de meus braços?’ (Bento XVI)” (Doc. Aparecida, 269-270 e discurso inaugural). Que ela seja também a força e a luz da “nova Evangelização para a transmissão da Fé cristã”.
A fé coerente produz uma nova conversão, a mudança de mentalidade (“metánoia”, em grego) que pregava São João Batista, consequência natural de quem colocou Cristo em sua vida. Conversão que exige violência para conosco, ou seja, o “agir contra” de Santo Inácio de Loyola. Essa é a violência que Deus quer de nós: a luta contra nossas paixões desordenadas, contra o pecado e o mal: “O Reino dos Céus é conquistado à força, e são os violentos que o conquistam” (Mt 11,12).  Não é apenas com um verniz cristão, combinada com uma vida mole, que seremos fiéis ao nosso Batismo. Não foi isso que se propuseram os nossos primeiros missionários que, deixando o conforto de seus países, aqui derramaram suor, lágrimas e sangue para evangelizar o novo mundo. Violentos contra suas próprias paixões e cheios de mansidão para com o próximo: “Bem-aventurados os que promovem a paz” (Mt 5, 9): esse é o programa cristão.
Falando ultimamente sobre osensus fidelium ou sensus fidei”, o nosso Papa teólogo explica que “o mesmo ‘sentido sobrenatural da fé’ é também um baluarte contra o preconceito de que as religiões, e especialmente as religiões monoteístas, seriam intrinsecamente portadoras de violência, principalmente por causa da alegação de que elas ultrapassam a existência de uma verdade universal’, enquanto que, pelo contrário, o ‘politeísmo dos valores’ garantiria ‘a tolerância e a paz civil’. Jesus em primeiro lugar, terminando na cruz, “atesta uma rejeição radical de toda forma de ódio e violência em favor do primado absoluto do ágape". Qualquer forma de violência cometida em nome de Deus, não é portanto, devida ao monoteísmo, mas sim “a causas históricas, principalmente aos erros dos homens.” Pelo contrário, é o “esquecimento de Deus”, que, juntamente com o relativismo e a negação de uma verdade objetiva, “gera inevitavelmente a violência”, porque é negado o diálogo. Se não houver abertura para o transcendente “o homem torna-se incapaz de agir de acordo com a justiça e de comprometer-se pela paz” (Bento XVI, audiência à Comissão Teológica Internacional, 7/12/2012).
Preparando-nos para celebrar o nascimento do “Príncipe da Paz” (Is 9,6), Jesus Cristo, em cujo Natal os anjos, mensageiros de Deus, cantaram “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que ele ama” (Lc 2, 14), reflitamos que jamais se pode usar sua religião como instrumento de violência. “Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz” (São Francisco de Assis).




 












Dom Fernando Arêas Rifan 
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

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