A Igreja é repleta de mistérios, sendo ela mesma um mistério, como um sacramento, no qual uma coisa é o que aparece, outra é o que realmente é. E a Igreja, à semelhança de seu Divino Fundador, tem sua parte divina e humana. Divina na sua instituição, doutrina e graça salvífica que nos transmite, e humana nos seus membros, muitas vezes pecadores, ela “é ao mesmo tempo santa e sempre necessitada de purificação” (L.G. 8).
Pessoas nem
sempre imbuídas de espírito de Fé especulam os problemas da
Igreja católica, demasiadamente focados na sua parte humana,
organizacional e estrutural, esquecendo-se da parte divina,
muito mais importante, e a presença nela do seu Fundador, que
a assiste através do Divino Espírito Santo. Mas, há já dois
mil anos, ela “continua o seu peregrinar entre as perseguições
do mundo e as consolações de Deus” (L.G. 8).
Mas
afinal o que há por trás da renúncia de Bento XVI. Além dos
motivos visíveis, apontados pelo próprio Papa – “forças já não
idôneas, vigor do corpo e do espírito, devido à idade
avançada” – existem outros fatores ocultos. Todos estão
curiosos e eu vou lhes revelar o que realmente está por detrás
dessa atitude do Papa.
Só
é capaz de renunciar a esse cargo de tal importância e
influência quem, olhando muito além das perspectivas humanas,
tem uma profunda Fé em Deus, na divindade da sua Igreja e na
assistência daquele do qual o Papa é o representante na terra:
“confiemos a
Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor
Jesus Cristo” (Bento XVI).
E como a Fé é a base da Esperança e da
confiança, por trás dessa renúncia há uma sublime confiança em
Deus: a barca de Pedro não soçobrará nas ondas desse mar
tempestuoso, nem depende de nós para isso: “as forças do
Inferno não poderão vencê-la” (Mt 16, 18).
Por trás dessa
renúncia, vemos um grande amor a Deus e à sua Igreja: “uma
decisão de grande importância para a vida da Igreja”, como
disse ele.
Um grande desapego do
alto cargo e influente posição, declarando-se apenas um
humilde servidor, uma profunda humildade, não se julgando
necessário e reconhecendo a própria fraqueza e incapacidade,
de corpo e de espírito, para exercer adequadamente o
ministério petrino, e ao pedir perdão – “peço perdão por todos
os meus defeitos”.
Ao lado
do heroísmo do Beato João Paulo II de levar o sofrimento
pessoal até o fim, temos o grande heroísmo de Bento XVI
de renunciar por amor à Igreja, para evitar qualquer
sofrimento para ela. No
começo da Igreja, no tempo das perseguições, houve
cristãos que resolveram ficar onde estavam e enfrentar o
martírio. Exemplo de fortaleza. Houve outros
cristãos, que temendo a perseguição e a própria
perseverança, acharam melhor fugir da perseguição e se
refugiar no deserto, para rezar e fazer penitência, longe
do mundo. Exemplo de humildade. Houve santos de ambas as
posturas, os que enfrentaram e os que se retiraram.
Heroísmo de fortaleza e heroísmo de humildade, frutos da
Fé. A Igreja é feita de heróis da Fé!
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo
da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
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