sábado, 14 de janeiro de 2012

O DESAFIO DE VIVER A VOCAÇÃO CRISTÃ NO MUNDO DE HOJE

 Vivemos num mundo onde os valores do poder, do ter e do prazer são objetos de adoração e de idolatria. A luta pelo poder torna as pessoas desumanas. As guerras, o ódio e as tensões ameaçam o mundo que já encontra-se dividido entre ricos e pobres e divida-se cada vez mais em bandos antagônicos e inimigos que lutam para aniquilar o adversário. A sexualidade tornou-se presa fácil e objeto de prazer despojando o ser humano de sua dignidade e intimidade. A vida em seu conjunto perde a dimensão fraternal e comunitária e torna-se uma guerra onde os homens se desumanizam as serviço de valores-objetos como o poder, o ter e o prazer.
A secularização se expande cada vez mais e vai tomando conta das pessoas. O ser humano vai perdendo o sentido profundo de sua vida, sua razão de ser no mundo e tornando-se escravo de si mesmo, das leis criadas por ele mesmo e da máquina que deveria estar ao seu serviço.
 É dentro dessa realidade toda que nos encontramos como pessoas cristãs, chamadas a transformá-la, vivendo o compromisso que assumimos no Batismo.
Lembro-me que, em 1989, o Papa João Paulo II fazia um apelo aos jovens da época, muito válido aos jovens e a todos os cristãos de todos os tempos:
 “… não tenhais medo de ser santos! Tende a coragem de buscar e encontrar a verdade, para além do relativismo e da indiferença daqueles que tendem a edificar o nosso mundo como se Deus não existisse. Jamais sereis desiludidos se conservardes como ponto de referência na vossa busca, Cristo, verdade do homem. A revelar o mistério do Pai e do seu Amor, Ele ‘manifesta perfeitamente o homem ao próprio homem e descobre-lhe a sublimidade de sua vocação’ (GS 22).
Tende a coragem da solidariedade, na Igreja e no mundo: convidai todos a serem, juntamente convosco, os artífices da ‘civilização do amor’, que o evangelho exige que edifiquemos, superando as divisões e os ódios que se escondem no coração humano, reconciliando os homens com as criaturas, os homens entre si e os homens com Deus. Eis aqui o enorme projeto que se vos apresenta. Compete-vos pô-lo em prática!
… Ide também vós, por todos os lugares, sempre conscientes do desejo de (Jesus) Cristo: ‘Vim lançar fogo sobre a terra; e que quero eu senão que ele se tenha ateado?’ (Lc 12,49). Fazei com que arda este fogo que Jesus trouxe, o fogop do Espírito Santo, que queima toda a miséria humana, todo o mesquinho egoísmo, todo o mau pensamento. Deixai este fogo que se propague em seu coração”. (L’Osservatore Romano, nº 39/09/1991).
Em março de 1991, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, entre outras, o Papa dirige estas palavras à juventude em cadeia de rádio: “É tarefa dos jovens lembrar à humanidade, por palavras e pelo testemunho, que Deus é Pai de todos. (…) Exorto-vos a colocarem Cristo no centro de vossas vidas e a darem testemunho de Cristo, para construírem um mundo mais justo e mais fraterno”.
 O desafio está lançado, transformar este mundo que está se estruturando como se Deus não existisse, de tal forma que as pessoas estão caindo na solidão, no vazio: drogas, alcoolismo, depressão, prostituição, ganância, corrupção, abortos, violência ... e aumenta cada vez mais o numero dos suicídios. O homem vai se afastando cada vez mais de Deus e atraindo para si a morte, pois está esquecendo que Deus é o princípio, o fim e a presença da vida. Ele é a Vida.
O homem está esquecendo que é imagem e semelhança de Deus. Que Deus lhe preparou todo um universo, o ambiente da vida, e que é a presença de Deus, a união, a intimidade com Ele que mantém a vida.
Estamos esquecendo que Deus se fez um de nós, encarnou-se, veio recuperar, resgatar em nós esta imagem e semelhança sua maculada pelo pecado. Que Ele veio resgatar e nos mostrar pessoalmente a dignidade da vida.
Esta perda da consciência daquilo que somos é visível. Basta nos perguntar sobre a postura que temos diante da vida. Basta ver a realidade do matrimônio e da família como centro de formação da vida. Olhar para o número de abortos praticados a cada ano. E tantas outras realidades onde as cenas de morte parece ser normais nos dias de hoje.
A proposta de Jesus vem ao encontro de todas essas realidades como uma proposta de VIDA, proposta de amor.
Jesus Cristo nos revela que o Pai é AMOR, que ele quer a vida de seus filhos, pecadores, e não a morte. Já o Livro de Ezequiel nos aponta para esta vontade do senhor quando diz: “Certamente não tenho prazer na morte do ímpio; mas antes na sua conversão, em que ele se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos. Por que haveis de morrer, ó casa de Israel” (Ez 33,11). Já Lucas nos apresenta as seguintes palavras de Jesus: “Os sãos não têm necessidade de médico e sim os doentes; não vim chamar os justos, mas sim os pecadores, ao arrependimento” (Lc 5,31).
Cristo tem uma proposta concreta, baseada no mandamento do amor. Esta proposta se concretiza em várias dimensões:
PERDÃO – Deus nos perdoa e vem fazer-se presente no meio de nós. Ele mostra que o perdão é essencial como caminho, como condição para voltar à verdadeira vida. Cristo é a união de Deus com os homens e disse: “Eu vim para que todos tenham vida” ( Jo 10,10).
ANÚNCIO DA BOA NOVA – Cristo ensina ao mundo qual é a Vontade de Deus, ou seja, o que é essencial para a vida do ser humano.
TESTEMUNHO – Cristo dá a sua vida pela nossa vida. Testemunha, vive tudo o que fala, e finalmente morre na cruz para nos reconciliar plenamente com Deus.
VIDA ETERNA – Ressurreição. Nos dá a razão, o sentido da fé. Garante-nos a eternidade.
 Cristo mostra que todos são filhos de Deus e têm os mesmos direitos diante de Deus. Sua proposta é de fraternidade, de encontro e união entre todos. Para que isto aconteça, Ele propõe o AMOR: amor a tal ponto de amar os inimigos. Sua proposta é radical. Vai contra os valores individualistas do mundo.
A fim de que mude a situação de pecado é necessário que haja a conversão. A conversão é um “parto doído”, um sair das estruturas de pecado (do individualismo), para entrar numa nova estrutura: a comunidade do amor.
Nós já fomos perdoados por Cristo, através do seu mistério Pascal. Pelo Batismo assumimos o compromisso com Cristo: tornamo-nos cristãos. Somos herdeiros de Deus, elevados por Cristo à condição de filhos (cf. Gal 4, 1-7).
Ser cristão é reproduzir hoje a imagem de Cristo em nós. É perdoar a ponto de amar o inimigo. É anunciar ao mundo a Boa Nova que assumimos, testemunhando-a com a vida. Fazer do Evangelho, dos valores do reino a nossa conduta de vida. Viver o Evangelho no mundo de hoje como viveram as primeiras comunidades cristãs em seu tempo e em seu mundo (cf. At 2, 42 ss). Encontrar formas de mostrar ao mundo de hoje os valores nops quais nós acreditamos. Ter uma postura de vida coerente: traduzir a fé em gestos concretos, em atitude permanente.      Tantas vezes temos medo de ser diferentes. Esquecemos que se é necessário conversão, temos que ser o testemunho vivo daquilo que diferencia a situação.
Ser cristão hoje, necessita “nadar contra a correnteza” que o mundo apresenta. E o próprio cristo nos alerta que o mundo nos odiará. Por isso Ele pede para vigiarmos sem cessar.
Portanto, é necessário perseverar na luta. E todos sabemos como isso é difícil. Mas o próprio Cristo nos mostra que o reino de Deus é conquistado com esta força: a força da nossa vontade, consoante com a vontade e a graça de Deus que se faz presente.
Para isso, necessitamos da oração, da leitura e reflexão da Palavra de Deus, do silêncio e da escuta, a fim de descobrirmos a Vontade de Deus que nos levará à caridade, à vivência desta proposta.
Tudo isto começa pela fé em Jesus Cristo. Como poderemos manifestar o nosso testemunho ao mundo se não estivermos convictos de que aquilo no que e em Quem acreditamos é a Verdade?
Nós afirmamos que Deus é Amor, é Vida, é Pai. Não estamos satisfeitos com a situação do mundo hodierno. Dizemos que o Evangelho é Verdade... Mas, nos perguntemos agora: quanto tempo por dia dedicamos à leitura e à meditação da Verdade – da Palavra de Deus? Como está a nossa freqüência à Eucaristia? Como tornamos presente, no cotidiano da vida, o Cristo que recebemos na Palavra e na eucaristia? Façamos um exame de consciência.
Nós, cristãos, temos as três grande virtudes: Fé, Esperança e Caridade. Estas virtudes nos identificam como cristãos. Mas, se não as vivermos, que esperança, que sinal seremos para o mundo? Não seremos sal e luz para o mundo. Como é triste um cristão sem esperanças!
Se a nossa vida no dia-a-dia, o nosso modo de ser e de viver, a partirem das menores coisas e momentos que sejam, a nossa honestidade, coerência, caridade, fidelidade, não esquentarem o coração das pessoas, não as atraírem para Deus, estamos sendo falsos cristãos, nossa vida não está sendo de acordo com a nossa fé.
Nosso momento é agora. Não importa os passos dados, mas os que estamos e estaremos dando a partir de agora.
Que São Paulo, o perseguidor que converteu-se no maior missionário e testemunho de Cristo de todos os tempos, nos sirva de modelo e inspiração em nossa vivência cristã do dia-a-dia.

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