A
secularização se expande cada vez mais e vai tomando conta das pessoas. O ser
humano vai perdendo o sentido profundo de sua vida, sua razão de ser no mundo e
tornando-se escravo de si mesmo, das leis criadas por ele mesmo e da máquina
que deveria estar ao seu serviço.
É
dentro dessa realidade toda que nos encontramos como pessoas cristãs, chamadas
a transformá-la, vivendo o compromisso que assumimos no Batismo.
Lembro-me
que, em 1989, o Papa João Paulo II fazia um apelo aos jovens da época, muito
válido aos jovens e a todos os cristãos de todos os tempos:
“… não tenhais medo de ser santos! Tende a
coragem de buscar e encontrar a verdade, para além do relativismo e da
indiferença daqueles que tendem a edificar o nosso mundo como se Deus não
existisse. Jamais sereis desiludidos se conservardes como ponto de referência
na vossa busca, Cristo, verdade do homem. A revelar o mistério do Pai e do seu
Amor, Ele ‘manifesta perfeitamente o homem ao próprio homem e descobre-lhe a
sublimidade de sua vocação’ (GS 22).
Tende
a coragem da solidariedade, na Igreja e no mundo: convidai todos a serem,
juntamente convosco, os artífices da ‘civilização do amor’, que o evangelho
exige que edifiquemos, superando as divisões e os ódios que se escondem no
coração humano, reconciliando os homens com as criaturas, os homens entre si e
os homens com Deus. Eis aqui o enorme projeto que se vos apresenta. Compete-vos
pô-lo em prática!
… Ide
também vós, por todos os lugares, sempre conscientes do desejo de (Jesus)
Cristo: ‘Vim lançar fogo sobre a terra; e que quero eu senão que ele se tenha
ateado?’ (Lc 12,49). Fazei com que arda este fogo que Jesus trouxe, o fogop do
Espírito Santo, que queima toda a miséria humana, todo o mesquinho egoísmo,
todo o mau pensamento. Deixai este fogo que se propague em seu coração”.
(L’Osservatore Romano, nº 39/09/1991).
Em
março de 1991, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, entre outras, o
Papa dirige estas palavras à juventude em cadeia de rádio: “É tarefa dos jovens
lembrar à humanidade, por palavras e pelo testemunho, que Deus é Pai de todos.
(…) Exorto-vos a colocarem Cristo no centro de vossas vidas e a darem
testemunho de Cristo, para construírem um mundo mais justo e mais fraterno”.
O
desafio está lançado, transformar este mundo que está se estruturando como se
Deus não existisse, de tal forma que as pessoas estão caindo na solidão, no
vazio: drogas, alcoolismo, depressão, prostituição, ganância, corrupção,
abortos, violência ... e aumenta cada vez mais o numero dos suicídios. O homem
vai se afastando cada vez mais de Deus e atraindo para si a morte, pois está
esquecendo que Deus é o princípio, o fim e a presença da vida. Ele é a Vida.
O
homem está esquecendo que é imagem e semelhança de Deus. Que Deus lhe preparou
todo um universo, o ambiente da vida, e que é a presença de Deus, a união, a
intimidade com Ele que mantém a vida.
Estamos
esquecendo que Deus se fez um de nós, encarnou-se, veio recuperar, resgatar em
nós esta imagem e semelhança sua maculada pelo pecado. Que Ele veio resgatar e
nos mostrar pessoalmente a dignidade da vida.
Esta
perda da consciência daquilo que somos é visível. Basta nos perguntar sobre a
postura que temos diante da vida. Basta ver a realidade do matrimônio e da
família como centro de formação da vida. Olhar para o número de abortos
praticados a cada ano. E tantas outras realidades onde as cenas de morte parece
ser normais nos dias de hoje.
A
proposta de Jesus vem ao encontro de todas essas realidades como uma proposta
de VIDA, proposta de amor.
Jesus
Cristo nos revela que o Pai é AMOR, que ele quer a vida de seus filhos,
pecadores, e não a morte. Já o Livro de Ezequiel nos aponta para esta vontade
do senhor quando diz: “Certamente não tenho prazer na morte do ímpio; mas antes
na sua conversão, em que ele se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos,
convertei-vos dos vossos maus caminhos. Por que haveis de morrer, ó casa de
Israel” (Ez 33,11). Já Lucas nos apresenta as seguintes palavras de Jesus: “Os
sãos não têm necessidade de médico e sim os doentes; não vim chamar os justos,
mas sim os pecadores, ao arrependimento” (Lc 5,31).
Cristo
tem uma proposta concreta, baseada no mandamento do amor. Esta proposta se
concretiza em várias dimensões:
PERDÃO
– Deus nos perdoa e vem fazer-se presente no meio de nós. Ele mostra que o
perdão é essencial como caminho, como condição para voltar à verdadeira vida.
Cristo é a união de Deus com os homens e disse: “Eu vim para que todos tenham
vida” ( Jo 10,10).
ANÚNCIO
DA BOA NOVA – Cristo ensina ao mundo qual é a Vontade de Deus, ou seja, o que é
essencial para a vida do ser humano.
TESTEMUNHO
– Cristo dá a sua vida pela nossa vida. Testemunha, vive tudo o que fala, e
finalmente morre na cruz para nos reconciliar plenamente com Deus.
VIDA
ETERNA – Ressurreição. Nos dá a razão, o sentido da fé. Garante-nos a
eternidade.
Cristo
mostra que todos são filhos de Deus e têm os mesmos direitos diante de Deus.
Sua proposta é de fraternidade, de encontro e união entre todos. Para que isto
aconteça, Ele propõe o AMOR: amor a tal ponto de amar os inimigos. Sua proposta
é radical. Vai contra os valores individualistas do mundo.
A fim
de que mude a situação de pecado é necessário que haja a conversão. A conversão
é um “parto doído”, um sair das estruturas de pecado (do individualismo), para
entrar numa nova estrutura: a comunidade do amor.
Nós já
fomos perdoados por Cristo, através do seu mistério Pascal. Pelo Batismo
assumimos o compromisso com Cristo: tornamo-nos cristãos. Somos herdeiros de
Deus, elevados por Cristo à condição de filhos (cf. Gal 4, 1-7).
Ser
cristão é reproduzir hoje a imagem de Cristo em nós. É perdoar a ponto de amar
o inimigo. É anunciar ao mundo a Boa Nova que assumimos, testemunhando-a com a
vida. Fazer do Evangelho, dos valores do reino a nossa conduta de vida. Viver o
Evangelho no mundo de hoje como viveram as primeiras comunidades cristãs em seu
tempo e em seu mundo (cf. At 2, 42 ss). Encontrar formas de mostrar ao mundo de
hoje os valores nops quais nós acreditamos. Ter uma postura de vida coerente:
traduzir a fé em gestos concretos, em atitude
permanente. Tantas vezes temos medo de ser
diferentes. Esquecemos que se é necessário conversão, temos que ser o
testemunho vivo daquilo que diferencia a situação.
Ser
cristão hoje, necessita “nadar contra a correnteza” que o mundo apresenta. E o
próprio cristo nos alerta que o mundo nos odiará. Por isso Ele pede para
vigiarmos sem cessar.
Portanto,
é necessário perseverar na luta. E todos sabemos como isso é difícil. Mas o
próprio Cristo nos mostra que o reino de Deus é conquistado com esta força: a
força da nossa vontade, consoante com a vontade e a graça de Deus que se faz
presente.
Para
isso, necessitamos da oração, da leitura e reflexão da Palavra de Deus, do
silêncio e da escuta, a fim de descobrirmos a Vontade de Deus que nos levará à
caridade, à vivência desta proposta.
Tudo
isto começa pela fé em Jesus Cristo. Como poderemos manifestar o nosso
testemunho ao mundo se não estivermos convictos de que aquilo no que e em Quem
acreditamos é a Verdade?
Nós
afirmamos que Deus é Amor, é Vida, é Pai. Não estamos satisfeitos com a
situação do mundo hodierno. Dizemos que o Evangelho é Verdade... Mas, nos perguntemos
agora: quanto tempo por dia dedicamos à leitura e à meditação da Verdade – da
Palavra de Deus? Como está a nossa freqüência à Eucaristia? Como tornamos
presente, no cotidiano da vida, o Cristo que recebemos na Palavra e na
eucaristia? Façamos um exame de consciência.
Nós,
cristãos, temos as três grande virtudes: Fé, Esperança e Caridade. Estas
virtudes nos identificam como cristãos. Mas, se não as vivermos, que esperança,
que sinal seremos para o mundo? Não seremos sal e luz para o mundo. Como é
triste um cristão sem esperanças!
Se a
nossa vida no dia-a-dia, o nosso modo de ser e de viver, a partirem das menores
coisas e momentos que sejam, a nossa honestidade, coerência, caridade,
fidelidade, não esquentarem o coração das pessoas, não as atraírem para Deus,
estamos sendo falsos cristãos, nossa vida não está sendo de acordo com a nossa
fé.
Nosso
momento é agora. Não importa os passos dados, mas os que estamos e estaremos
dando a partir de agora.
Que
São Paulo, o perseguidor que converteu-se no maior missionário e testemunho de
Cristo de todos os tempos, nos sirva de modelo e inspiração em nossa vivência
cristã do dia-a-dia.
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