Hoje (06) a Igreja celebra a festa da Transfiguração do Senhor.
A
Transfiguração do Senhor é a maravilhosa confirmação de que, em Jesus, a
condição humana é gloriosa, mesmo que seja vulnerável ao sofrimento e à
morte.
No
alto da montanha, Cristo quis antecipar a Sua glória àqueles que Ele
havia escolhido Pedro, Tiago e João. Também manifesta a sua identidade
mais profunda, oculta sob o véu de sua humanidade. A luminosidade de
suas vestes manifesta a sua divindade.
O
aparecimento de Moisés e Elias conversando com Jesus, correspondem a uma
representação da revelação de Deus. Moisés representa “a Lei” e Elias
“os Profetas”, o conjunto dos ensinamentos divinos até então oferecidos
por Deus a seu Povo. Cristo veio dar cumprimento à Lei e aos Profetas,
Ele é a plenitude da revelação.
Pedro
sugeriu a Jesus construir: uma tenda para Jesus, outra para Moisés e uma
outra para Elias. Considerava-se que uma das características dos
tempos messiânicos seria os justos morarem em tendas. No momento em que
Pedro ainda estava falando formou-se uma nuvem que os cobriu com a sua
sombra. A nuvem «é o sinal da presença de Deus mesmo, ashekináh. A nuvem
sobre a tenda do encontro indicava a presença de Deus. Jesus é a tenda
sagrada sobre a qual está a nuvem da presença de Deus e a qual cobre
agora “com sua sombra” também a outros» (S.S. Bento XVI).
Desta
nuvem saiu uma voz que dizia: «Este é o meu Filho muito amado.
Escutai-o». É a voz de Deus, a voz do Pai que proclama Jesus Cristo como
Filho dele e manda escutá-lo.
Depois
de escutarem a voz vinda dos céus, os discípulos ficaram assustados e
caíram com o rosto em terra. Jesus pediu aos discípulos que se
levantassem e que não tivessem medo.
Ao
desceram da montanha, Jesus fez um único pedido aos três discípulos:
‘Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha
ressuscitado dos mortos’.
Pela
Transfiguração, Jesus preparou os discípulos para não se escandalizarem
com a sua Paixão e morte e mostrou-lhes a sua glória e divindade.
A
Liturgia da Palavra orienta que a Transfiguração do Senhor aponta para o
nosso destino vitorioso. Após termos visto “ brilhar a glória do
Senhor”, como os Apóstolos, devemos “descer do monte”, e assumir os
desafios próprios de nossa missão, mesmo que implique sofrimento, como
foi no caso do Senhor.
Quando
passarmos por momentos duros e difíceis, não nos desesperemos:
abracemos a Cruz do Senhor, rezemos intensamente e esperemos com
paciência o novo nascimento do Sol, o triunfo do Senhor em nossas vidas.
LUZES PARA A VIDA CRISTÃ
Pedro,
Tiago e João experimentam algo fascinante, maravilhoso: veem o Senhor
transfigurar-se diante de seus olhos, veem-no em todo seu esplendor,
percebem a intensa luz que irradia de todo o seu ser, sua Glória, e
embora esta intensíssima e tremenda experiência os assuste, maior é a
alegria extraordinária que inunda o coração dos apóstolos: «Mestre, bom é
estarmos aqui; façamos três tendas.», é como dizer: “Fiquemos aqui para
sempre! Queremos que esta felicidade intensa nunca passe!”
Às vezes acontece algo parecido em nosso próprio peregrinar de fé: Deus
nos concede em um momento oportuno uma experiência espiritual intensa
que gostaríamos que se prolongasse para sempre, que nunca acabasse.
Entretanto, experiências como essas não duram para sempre, e às vezes
duram só um instante. E assim, logo depois de “ver brilhar a glória do
Senhor”, como os Apóstolos, devem “descer do monte”, voltar para a vida
cotidiana, à luta às vezes tediosa, à rotina absorvente de cada dia, a
suportar fadigas, tentações, dificuldades, provas, adversidades, etc.
Quantos, logo depois de experimentar momentos tão intensos se desalentam
na batalha! Quantos pensam em abandonar a luta e jogar para longe de si
a cruz que implica a vida cristã porque “já não sentem nada”, porque o
caminho se faz encosta acima e “não pensei que me custaria tanto”,
porque “já não posso mais”. E no meio destas reflexões e tentações,
perdendo a resistência, não dispostos a assumir o esforço e pagar assim o
preço necessário para conquistar a eternidade, desconfiando do Senhor e
do poder de sua graça, abandonaram covardemente a luta dizendo-se a si
mesmos: “Isto não é para mim! Eu não posso!” Mas não só abandonaram o
caminho do bem: enganados e fascinados pelo brilho vão que o mundo lhes
oferecia, retornaram ao Egito, ali onde “tudo era melhor”, ali onde tudo
é mais fácil e mais cômodo, ali onde “há com o que saciar imediatamente
a fome e a sede” de infinito que queima suas vísceras. Que ilusão e
engano!
E onde ficaram aquelas experiências intensas que o Senhor lhes deu de
presente? Foram acaso tão somente uma ilusão e fantasia de momento, uma
auto-sugestão, quer dizer, uma mentira? Assim costumam autojustificar-se
e enganar-se aqueles que abandonando a luta e apartando seus olhos da
eternidade decidem “viver o momento”. Querem substituir com fugazes
“experiências extremas”, repetidas uma e outra vez até o cansaço e a
saciedade, a profunda e duradoura felicidade que só o Senhor lhes pode
dar. Aos que deste modo fogem de seu interior e do Senhor certamente
nada mais resta que lançar-se freneticamente a procura de saciar sua
fome e sede de infinito com bebedeiras de todo tipo, com sensações
fortes, intensas, através do prazer sensual, do poder, do ter, ou
através do vício do trabalho, à ação superficial e ininterrupta. Assim,
no dia a dia, são como pobres mendigos que procuram saciar-se com
migalhas, ou pior ainda, com alimento para porcos, querendo sossegar o
grito incontestável de seus corações que clama por um Pão Vivo que sacie
sua fome de felicidade, de paz, de autêntica comunhão no amor.
Como é importante valorizar e entesourar aquelas experiências que Deus
nos dá de presente em algum momento da vida, experiências às vezes muito
intensas, outras muito suaves e singelas, para não sucumbir diante das
provas e cruzes que encontraremos no caminho, para não nos deixarmos
seduzir pelas miragens que em momentos de deserto espiritual nos
convidam a abandonar o caminho do Senhor, o caminho que pela cruz conduz
à glória, sugerido-nos “voltar para o Egito”, quer dizer, optar por uma
vida mais fácil, mais cômoda e prazenteira, mais “light”, mais ajustada
a nossa mediocridade!
Como a transfiguração para os Apóstolos, as experiências intensas que em
um momento de nossa vida inundam nosso espírito de uma paz e uma
alegria profundas são um presente de Deus para nosso peregrinar, uma
tênue antecipação do que Deus nos promete se perseverarmos no caminho
que Jesus nos ensina, um firme estímulo para lutar dia a dia pelo que
gostamos brevemente mas que ainda nos falta conquistar, aquilo que «os
olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou
(Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o
amam.» (1Cor 2, 9). Esses momentos de luz têm que permanecer sempre em
nossa cordial memória para nos alentar em todas as nossas lutas, para
alimentar nossa esperança e nos sustentar dia a dia na fiel perseverança
até o fim.
Assim, pois, nos momentos de prova, nos momentos em que o céu nos pareça
nublado, quando a escuridão pareça cobri-lo totalmente e as espessas
trevas da dor inundarem sua mente e coração, lembre-se dos momentos de
luz, momentos em que o Senhor se mostrou em sua vida com suma claridade.
Estas experiências são como o sol: não podemos duvidar de sua
existência embora por momentos as nuvens densas o ocultem, e assim,
embora não o vejamos por dias, semanas, meses, sabemos que está sempre
ali, que está detrás das nuvens ou das tormentas que se interpõem
momentaneamente. Quando você passar por esses momentos duros e difíceis,
não se desespere: abrace a Cruz do Senhor, reze intensamente e espere
com paciência o novo nascimento do Sol, o triunfo do Senhor em sua vida.
"Ó DEUS QUE NA GLORIOSA TRANSFIGURAÇÃO DE VOSSO FILHO CONFIRMASTES OS MISTÉRIOS DA FÉ,PELOS TESTEMUNHOS DE MOISÉS E ELIAS, E MANIFESTASTES DE MODO ADMIRÁVEL A NOSSA GLÓRIA DE FILHOS ADOTIVOS, CONCEDEI AO VOSSOS SERVOS E SERVAS OUVIR A VOZ DO VOSSO FILHO AMADO E COMPARTILHAR DE SUA HERANÇA."