FALECIDOS, NÃO MORTOS
Dom Fernando Arêas Rifan*
No próximo dia 2 celebraremos a memória dos fieis defuntos, dos nossos
falecidos, daqueles que estiveram conosco e hoje estão na eternidade, os
“finados”, aqueles que chegaram ao fim da vida terrena e já começaram a
vida eterna. Portanto, não estão mortos, estão vivos, mais até do que
nós, na vida que não tem fim, “vitam venturi saeculi”. Sua vida não foi
tirada, mas transformada. Por isso, o povo costuma dizer dos falecidos:
“passou desta para a melhor!” Olhemos, portanto, a morte com os olhos da
fé e da esperança cristã, não com desespero pensando que tudo acabou.
Uma nova vida começou eternamente.
Os pagãos chamavam o local
onde colocavam os seus defuntos de necrópole, cidade dos mortos. Os
cristãos inventaram outro nome, mais cheio de esperança, “cemitério”,
lugar dos que dormem. É assim que rezamos por eles na liturgia: “Rezemos
por aqueles que nos precederam com o sinal da fé e dormem no sono da
paz”.
Os santos encaravam a morte com esse espírito de fé e
esperança. Assim São Francisco de Assis, no cântico do Sol: “Louvado
sejais, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal, da qual nenhum
homem pode fugir. Ai daqueles que morrem em pecado mortal. Felizes dos
que a morte encontra conformes à vossa santíssima vontade. A estes não
fará mal a segunda morte”. “É morrendo que se vive para a vida eterna!”.
S. Agostinho nos advertia, perguntando: “Fazes o impossível para morrer
um pouco mais tarde, e nada fazes para não morrer para sempre?”
Quantas boas lições nos dá a morte. Assim nos aconselha o Apóstolo São
Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos o bem a todos” (Gl 6, 10). “Para
mim o viver é Cristo e o morrer é um lucro... Tenho o desejo de ser
desatado e estar com Cristo” (Fl 1, 21.23). “Eis, pois, o que vos digo,
irmãos: o tempo é breve; resta que os que têm mulheres, sejam como se as
não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se alegram,
como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; os
que usam deste mundo, como se dele não usassem, porque a figura deste
mundo passa” (1 Cor 7, 29-31).
Diz o célebre livro A Imitação
de Cristo que bem depressa se esquecem dos falecidos: “Que prudente e
ditoso é aquele que se esforça por ser tal na vida qual deseja que a
morte o encontre!... Não confies em amigos e parentes, nem deixes para
mais tarde o negócio de tua salvação; porque, mais depressa do que
pensas se esquecerão de ti os homens. Melhor é fazeres oportunamente
provisão de boas obras e enviá-las adiante de ti, do que esperar pelo
socorro dos outros” (Imit. I, XXIII). O dia de Finados foi estabelecido
pela Igreja para não deixarmos nossos falecidos no esquecimento.
Três coisas pedimos com a Igreja para os nossos falecidos: o descanso, a
luz e a paz. Descanso é o prêmio para quem trabalhou. O reino da luz é o
Céu, oposto ao reino das trevas que é o inferno. E a paz é a recompensa
para quem lutou. Que todos os que nos precederam descansem em paz e a
luz perpétua brilhe para eles. Amém
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
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