Hoje é a festa da padroeira de toda a América
Latina, Nossa Senhora de Guadalupe, ícone da primeira evangelização do novo
mundo. “Ela, da mesma forma como deu à luz o Salvador do mundo, trouxe o
Evangelho à nossa América. No acontecimento em Guadalupe, presidiu, junto com o
humilde João Diego, o Pentecostes que nos abriu os dons do Espírito... Ela é
para nós escola de fé destinada a nos conduzir e a nos fortalecer no caminho
que conduz ao encontro com o Criador do céu e da terra... ‘Permaneçam na escola
de Maria. Inspirem-se em seus ensinamentos... Quando a Virgem de Guadalupe
apareceu ao índio São Juan Diego, disse-lhe estas significativas palavras: “Não
estou eu aqui que sou tua mãe? Não estás sob minha proteção? Não sou a fonte de
tua alegria? Não estás sob meu manto, no cruzar de meus braços?’ (Bento XVI)”
(Doc. Aparecida, 269-270 e discurso inaugural). Que ela seja também a força e a
luz da “nova Evangelização para a transmissão da Fé cristã”.
A fé coerente produz uma nova conversão, a mudança de mentalidade (“metánoia”, em grego)
que pregava São João Batista, consequência natural de quem colocou Cristo em
sua vida. Conversão que exige violência para conosco, ou seja, o “agir contra”
de Santo Inácio de Loyola. Essa é a violência que Deus quer de nós: a luta
contra nossas paixões desordenadas, contra o pecado e o mal: “O Reino dos Céus
é conquistado à força, e são os violentos que o conquistam” (Mt 11,12).
Não é apenas com um verniz cristão, combinada com uma vida mole, que
seremos fiéis ao nosso Batismo. Não foi isso que se propuseram os nossos
primeiros missionários que, deixando o conforto de seus países, aqui derramaram
suor, lágrimas e sangue para evangelizar o novo mundo. Violentos contra suas
próprias paixões e cheios de mansidão para com o próximo: “Bem-aventurados os
que promovem a paz” (Mt 5, 9): esse é o programa cristão.
Falando ultimamente sobre o “sensus fidelium ou sensus fidei”, o nosso Papa teólogo explica que “o mesmo
‘sentido sobrenatural da fé’ é também um baluarte contra o preconceito de que ‘as religiões, e especialmente as religiões
monoteístas, seriam intrinsecamente
portadoras de violência, principalmente por causa da alegação de que elas
ultrapassam a existência de uma verdade
universal’, enquanto que, pelo contrário, o ‘politeísmo dos valores’
garantiria ‘a tolerância e a paz civil’. Jesus
em primeiro lugar, terminando na cruz, “atesta uma rejeição radical de toda
forma de ódio e violência em favor do primado absoluto do ágape". Qualquer forma de violência cometida em nome de Deus,
não é portanto, devida ao
monoteísmo, mas sim “a causas históricas, principalmente aos erros dos homens.” Pelo contrário, é o “esquecimento de Deus”, que,
juntamente com o relativismo e a negação de uma verdade objetiva, “gera
inevitavelmente a violência”, porque é negado o diálogo. Se não houver
abertura para o transcendente “o homem torna-se incapaz de agir de acordo com a
justiça e de comprometer-se pela paz” (Bento XVI, audiência à Comissão Teológica
Internacional, 7/12/2012).
Preparando-nos para celebrar o nascimento do “Príncipe
da Paz” (Is 9,6), Jesus Cristo, em cujo Natal os anjos, mensageiros de Deus,
cantaram “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que ele ama” (Lc
2, 14), reflitamos que jamais se pode usar sua religião como instrumento de
violência. “Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz” (São Francisco de
Assis).
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração
Apostólica Pessoal São João
Maria Vianney
Nenhum comentário:
Postar um comentário