O primeiro Natal, do qual
celebramos a memória no dia 25, foi realmente alegre e feliz. Que
alegria e que felicidade! Nasceu Jesus, o Messias prometido desde o Paraíso
perdido, esperado pelos Patriarcas desde Adão, razão de ser do povo eleito, o
Salvador da humanidade, Deus feito homem. E os anjos anunciaram aos pastores
essa felicidade. A aparição da estrela misteriosa fez renascer a felicidade no
coração dos Magos que vieram do Oriente.
Segundo a filosofia (Cícero e
Boécio), felicidade é o estado constituído pelo acúmulo de todos os bens com a
ausência de todos os males.
Então, como poderemos chamar
feliz um Natal onde houve desprezo, rejeição – Jesus nasceu numa estrebaria por
falta de lugar para Ele nas casas e nas hospedarias -, lágrimas, gritos, morte,
luto – Herodes, perseguindo Jesus, mandou matar as crianças de Belém – fuga,
desterro, pobreza, sacrifícios?
Realmente, felicidade perfeita,
na definição filosófica, só se encontrará no Céu, na Jerusalém celeste, onde
Deus “enxugará toda a lágrima dos seus olhos e já não haverá morte, nem luto,
nem grito, nem dor, porque tudo isto passou” (Ap 21,4).
É a grande lição do Natal: é
possível ser feliz no desterro, na dor, no desprezo, no luto, até com lágrimas,
aqui na terra. Aqui, a felicidade consiste em ter Jesus, em estar com Jesus, em
amar Jesus de todo o coração, com a esperança de tê-lo perfeitamente um dia no
Céu. Talvez tenha sido essa a felicidade que Assis Valente, autor de
“Anoiteceu”, não conhecia quando a pediu ao Papai Noel. Talvez por isso tenha
se matado, pois ele e ela não vieram.
Aqui, o que faz a felicidade é a
esperança: "alegres pela esperança, pacientes na tribulação" (Rm
12,12). O cristão é otimista pela esperança. É feliz porque espera. Mesmo
quando sofre. Mesmo no meio dos sofrimentos, angústias e dores, pode-se ter a
felicidade. Por isso, o primeiro Natal foi cheio de felicidade. A pobre
estrebaria de Belém era o Céu. Ali faltava tudo e não faltava nada. Ali estava
a felicidade que a todos encheu de alegria: Jesus.
O
presépio de Belém é o princípio da pregação de Jesus, o resumo da sua Boa Nova,
o Evangelho. Dali, daquele pequeno púlpito, silenciosamente, ele nos ensina o
desprezo da vanglória desse mundo, o valor da pobreza e do desprendimento, o
nada das riquezas, a necessidade da humildade, o apreço das almas simples, a
paciência, a mansidão, a caridade para com o próximo, a harmonia na convivência
humana, o perdão das ofensas, a grandeza de coração, a pureza de alma, enfim,
todas as virtudes cristãs que fariam o mundo muito melhor, se as praticasse.
É por
isso que o Natal cristão é festa de paz e harmonia, de confraternização em
família, de troca de presentes entre amigos, de gratidão e de perdão. Pois é a
festa daquele que, sendo Deus, tornou-se nosso irmão aqui na terra,
ensinando-nos o que é a felicidade.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da
Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Desejo-vos, às vossas famílias, aos vossos amigos um Santo e Feliz Natal, repleto de bênçãos do Menino Jesus!
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